O diálogo entre loucura e a caretice

-Bem, e aqui estamos para mais uma perda de tempo, ops! uma conversa.
Disse a loucura.
-Verdade, e mais uma vez eu estou pronto a vencer.
Respondeu a caretice.
-Cara, me responde, qual a graça de ser um quadrado, ser eternamente tradicional?
Perguntou a loucura.
-Tudo bem, diga o que quiser, a cabeça daqueles que eu conquistei, tomam conta do mundo até hoje.
Disse a caretice.
-Então vamos por aí, eu te digo que enquanto houver pessoas dispostas a controlar, haverão também pessoas dispostas a lutar contra tal forma de dominação.
Retrucou a loucura.
-Meu caro, encare os fatos, esta luta há muito já foi decidida, o sistema já está solidificado, é tarde demais para se posicionar contra tal fato.
Disse a caretice.
-Nunca é tarde para se lutar, eu posso viver só de teorias,mas foram delas que as grandes revoluções se fizeram.
Disse a loucura
-Isso mostra o quanto vocês desperdiçam tempo, vá fazer a cabeça de alguém por outros métodos, aceite, a razão está do meu lado.
Disse a caretice.
-Certo! Era aí que eu queria chegar, a tal razão, onde ela se encontra agora?
Disse extasiado a loucura.
-Eu não sei bem ao certo, ela pode estar em vários lugares ao mesmo tempo, e tenho que confessar, sou eternamente grato a ela que me ajudou a chegar aonde me encontro, no topo. Mas diga-me o motivo de todo esse interesse? Vocês são inimigas mortais não?
Disse a caretice.
-Ah! Engana-te caro amigo, a minha forma de razão é outra, ela age quando você menos espera, ela pode apresentar várias formas, todas com bases factuais, é dela que vou usar agora para definir de uma vez esta conversa.
Disse a loucura.
-Vamos lá então, dê o seu melhor, quero rir bastante quando ver sua face derrotada.
Disse a caretice.
-Vamos lá, bem, a minha razão se manifesta graças ao seu modo de pensar, então primeiramente vou agradecendo.
-Vamos tirar pelo bom da vida, qual a graça de se ter uma vida sem novas descobertas, sem ousar tendo sempre o bom senso ou às vezes se permitindo sem ele mesmo? Você vive a ditar regras que muitas vezes não segue, vive uma vida linear impondo leis para si evitando um mal necessário, acho que até a morte tem pena de você, que nada aproveitou nessa curta vida, eu vivo livre e deixo que a vida me ensine mostrando-me as pedras que devo tropeçar e as escadas que devo subir, você vive sempre a se esconder na sombra de uma verdade já imposta e desgastada, o melhor de viver do meu lado, é ter a consciência de estar fazendo aquilo, sabendo as consequências, mas nunca deixando de ousar. Seus olhos só conseguem enxergar o óbvio, seus ouvidos só captam a voz de uma razão.
-Isso não pode cara, é aí que está a graça de ser alguém certo vivendo em uma sociedade errada. Deixe que os outros riam de você,mas conserve sua consciência, isto para mim é a chave do julgamento que você poderá ter em outro mundo, sabe-se lá para onde todos esses loucos irão e estão agora, só sei que deve ser um lugar maravilhoso, com coisas simples, nada de bens materiais, você disse que nós estamos cansados de perder, mas quem sabe isso não tinha de acontecer, a sociedade não estava pronta para tanto, mas os que tentaram escolheram seus caminhos, e te digo que não foi em vão, eles irão continuar fazendo a cabeça de milhares como eu, por diversas gerações e o pouco que pudermos fazer já será o bastante, nada de conformismo cara, deixe isso te viciar como uma droga, mas sem te tornar alienado, você deve estar sempre em busca de mais e sempre passando a quem se interessar.
A vida é curta e deve ser vivida da melhor forma e este graças ao Homem de cima foi o caminho que escolhi, ninguém que não seja você poderá te julgar, experimente.
-Bem, já falei por demais, fique à vontade agora para se posicionar contra ou a favor.
Nesse momento quando a loucura menos deu por si, estava só naquele canto de espaço minúsculo mas enorme de conteúdo.
Ao olhar para o chão se deparou com um bilhete deixado pela caretice talvez em um dos célebres momentos discussivos da loucura.
E assim estava escrito:
-Não precisei nem ouvir até a metade quando vozes começaram a me atentar, mas pensei comigo, por que não ouví-las? Muito obrigado pelas lições, fui aproveitar o resto de vida que ainda me sobra.



Uadi